quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu não entendo ele sabe ? É cansativo pra mim. Eu andei pelo bosque todo a procura de qualquer memoria e só rodei em circulos em volta de uma grande arvore, era tão escuro lá .. o frio chegava a cortar a minha pele ja sensivel pela nevada de inverno, e a serração me impedia de enchergar alem do rio, a unica coisa que eu sei é que ele estava ali, parado do outro lado do rio, olhando pra mim com um arbusto pequeno na mão. Ele não se mechia, não sorria e de sua boca não se ouvia nenhum som .. eramos nós dois no meio do nada, parados um em frente ao outro, sem saber que movimento tomar. Os unicos barulhos que se ouviam agora eram o da minha respiração que estava ofegante, e dos passaros negros que voavam por cima das arvores e compunham uma estranha melodia quase comica, ele sorriu e me disse:
- Engraçado não é ?
Eu me movi um pouco para trás como se me escondesse da frase pronunciada por ele.
- Não precisa recoar, eu não passo até ai. Disse ele deixando transparecer um sorriso ironico no rosto novamente.
Eu fiquei parada ali sem dizer nada, sentindo uma onda estranha de sentimentos passando pelo meu corpo.
- Eu me referia aos passaros, eles produzem um som engraçado a essa hora do dia .. quase ninguem aparece por aqui então eu não podia deixar essa observação de lado, eu fiquei surpreso ao te ver caminhar .. te observei por horas, me desculpe.
- Tudo bem. Deixei escapar essa frase quase como uma respiração, um folego e só.
E logo em seguida prossegui. _
- Eu ... eu me perdi, enquanto caminhava pelas ruas frias de Nenspook, pra falar a verdade eu não sei como vim parar aqui, tudo esta tão confuso.
- É normal isso acontecer com as pessoas desse lado ai, elas se perdem por 1 minuto raro na vida. Voces ficam com tanto medo daqui que quase não aproveitam a estadia e quando percebem ja estão do lado de fora novamente, desejando estar aqui. Disse ele olhando em direção a uma grande parede escura.
- Que lugar é esse ? _ Perguntei eu desejando ouvir uma resposta que fizesse sentido, eu não podia aceitar que estava tendo uma das minhas crises de quando era criança.
- Eu acho que voce sabe, então o que voce espera que eu responda ?
Eu só conseguia pensar no quanto aquilo era sinistro, a forma que aquelas arvores tomaram com o tempo, o chão em terra negra, os passaros que cantavam quase como se esperassem a primeira primavera em 200 anos, e aquele homem que era incrivelmente bonito tinha a pele branca como a neve, os cabelos escuros que desciam de uma bela forma em volta do rosto e a voz mais doce que eu ja havia escutado.
- Eu não espero que você responda nada. Respondi eu dando as costas para ele e andando em direção a trilha de onde eu havia saido.
E foi assim que a nossa historia começou, é bem obvio que eu quebrei a cara algumas (varias) vezes, eu não consegui sair daquele lugar, o meu narizinho empinado tinha sido quebrado pela barreira do tempo e só me restava ele, e quando ele aparecia. Ele me mostrou que quando nao se tem o devido cuidado com alguma coisa essa coisa simplesmente escapa da nossa vida antes mesmo que a gente perceba, pelo menos com pessoas são assim. Eu ficava o dia todo ali daquele lado do rio esperando que ele voltasse e me fizesse um pouco de companhia ja que a
minha jornada havia sido tão solitaria, e dele tambem teria sido se ele quisesse me contar mais ele prefeira deixar tudo em segredo, ele me ouvia o dia todo se fosse preciso, e as vezes eu sentia como se não tivesse fim o meu vocabulario hora culto hora não. Um dia eu resolvi perguntar o porque dele não poder atravessar o rio e me fazer realmente companhia e ele respondeu que não dependia dele eu ter companhia ou não, me disse que em algumas coisas da vida nós nao temos o direito de opinar, e por algum motivo estranho dessa vez eu havia aceitado uma resposta sem ter que ficar fazendo perguntas inacabaveis. A verdade é que as vezes ali eu me sentia injustamente só, afinal eu estava presa em um lugar do qual
eu não conseguia sair, não tinha sido minha escolha estar ali sozinha, entao eu comecei a dar valor para certas companhias la de fora. Confesso que por algumas vezes ele apareceu no meio da noite e me pegou chorando escondida atrás dos ramos florais azuis que ficava na beira do lago, entao eu disfarçava e dizia estar ajudando o lago a encher mais rapido e ele ria da originalidade da minha resposta e por vezes ele me contava estar tão sozinho quanto eu, e a bem mais tempo. Teve um dia em que eu realmente me senti marcada, eu estava deitada na beirada do rio com a cabeça dentro da agua procurando uma tragica resposta para as minhas perguntas tolas e ele me surpreendeu com uma pedrada na cabeça logicamente que eu gritei e xinguei todas as gerações dele, então ele me olhou fixamente e me respondeu:
- Engraçado que você vive reclamando que não pode me tocar, que me quer mais perto, que as vezes não sabe realmente se eu existo .. então, agora você tocou em algo que a segundos atrás estava na minha mão, sendo assim de certa forma você tambem me tocou.
Aquela resposta apesar de me soar tão cretina me pareceu muito verdadeira e ela tinha fundamento, então eu respirei profundamente e sorri. Fazendo isso eu automaticamente senti nascer dentro de mim uma alegria avassaladora e deixei uma grande gargalhada ecoar por aqueles bosques. Eu acho que passei longos anos naquele lugar e depois que a melhor fase da minha vida havia passado eu me senti estranhamente liberta de lá, um dia quando eu acordei eu percebi que a primavera havia chegado, surgiu alguns passaros coloridinhos no meio das aves negras e até algumas borboletas, a grama estava verde, e o barro havia secado deixando assim transparecer novamente o caminho pra casa. Eu nunca mais vi aquele homem, e depois de ter saido de lá eu percebi que nunca havia perguntado seu nome, ou se perguntei esqueci de memorizar. E hoje eu o vejo como um borrão de um sonho confuso, onde eu me puni por longos anos me escondendo do resto do mundo, foi uma fase "Stilo C!" de vida onde eu aprendi coisas, onde eu cresci, e parei de tentar cortar meus pulsos. Foi pesado, mais foi construtivo.